– Manhê, pega a toalha pra mim?
Lucas queria dar uma de gente grande
e tomar banho sozinho, mas tinha esquecido justo a toalha.
A postos dentro do boxe, abriu a
torneira e deixou que a água escorresse por seu corpo. Fechou os olhos e
aproveitou a ducha caindo no rosto até que ouviu uma pancada no vidro.
– Tá aí, cabeça de vento. Quer ajuda?
– Tá tudo certo. – Ele levantou o polegar.
A mãe assentiu, mas sem parecer
muito convencida, e saiu do banheiro.
Não era tão difícil tomar
banho sozinho, ora. Começou a se ensaboar. Já ia tirando a espuma quando viu um
movimento pelo canto do olho.
Olhou para o lado e congelou.
– Aaaaahhhhh!!!!
Lucas saltou para fora do boxe
com a água ainda ligada, escorregou e acabou levando um belo tombo.
– Que foi, criatura? Apareceu um alien aí?
– Tem um filhote de crocodilo no boxe!
A mãe revirou os olhos e deu uma
espiada.
– Você nunca tinha visto uma lagartixa?
– Não desse tamanho. Nem tão perto.
– Deve ser a mamãe.
– Ainda tem os filhotes por aí?
– Calma, Lucas, elas não fazem mal. Até comem insetos, ajudam a
gente. Essa aí parece simpática.
Lucas bufou. Arriscou uma
olhadinha e viu os olhinhos pretos o encarando. Dava a impressão de estar com
medo dele. Estavam quites.
Pegou a toalha e preferiu se
enxugar de uma vez daquele jeito mesmo. Adeus, lagartixa.
*
– Mãe, pode me ajudar no banho?
Lucas nunca ia admitir que estava
com medo, nem com a encarada da mãe.
A lagartixa estava em outro
canto, de costas. Lucas estava na expectativa dela se virar com seus olhinhos
sempre atentos... mas não com uma barata na boca.
– Ela é uma fera mesmo!
– É bacana, mas nojento. Vamos sair logo.
*
Lucas agora só queria saber de
observar o monstrinho. Ficava torcendo para ele aparecer com uma nova presa. O
mais engraçado foi quando Biriba descobriu a lagartixa. Sua gata tentou dar um
bote, mas o rabo do bichinho se soltou! Ficou se debatendo e deu tempo da Croc
se safar.
*
Ela ficou sumida por um tempo, depois surgiu com um rabo novo. Uma
fera com superpoderes.
Lucas já se sentia bem protegido no banho, o que podia acontecer
com ele?
Às vezes levava susto quando Croc passava em cima do seu pé, às
vezes quase pisava nela quando aparecia do nada, no seu reino que era o boxe.
*
Num dia de aguaceiro no banho, Lucas viu a lagartixa crocodilando,
parecendo um jacaré a nadar. Ele tentou se controlar, mas não conseguiu, e
pegou na Croc como se fosse um brinquedinho.
Ela não fez nenhum movimento de susto. Ele a suspendeu para
analisar melhor, mas o animal continuou imóvel, os olhinhos sem brilho.
Não podia ser.
– Manhê!
A mãe não sabia o que tinha acontecido, mas falou que era coisa da
natureza, que Croc tinha descansado sem dor, e ainda com o rabo novo.
Lucas fez carinho na cabeça dela e levou o corpinho até um
canteiro de flores. Com uma pequena pá, cavou um buraco e a enterrou.
Uma lágrima caiu para marcar o local e Lucas sorriu ao lembrar tudo
que tinham vivido.
Adeus, Croc.
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