domingo, agosto 12, 2018

O início da criminalidade

Há alguns anos, decidimos viajar para Miguel Pereira. Eu ia com meus pais, minha irmã e meus tios. Pegamos o ônibus na rodoviária por volta das 18h.
A viagem seria tranquila se não chovesse. Mas, ainda na Presidente Dutra, começou a chover muito, muito mesmo. Se de dia já é complicado, imagine de noite na estrada.

No meio da serra de Miguel Pereira, descobrimos que tinha acontecido um deslizamento. Aparentemente a tempestade fez desabar uma parte de uma fábrica de gelo, aí já viu, juntou a chuva torrencial com uma enxurrada da indústria.
O ônibus ficou parado um tempão na estrada, noite adentro. Então, o motorista resolveu fazer um retorno e ir por Paracambi, pois seria impossível percorrer o caminho normal.

Quando chegamos a Miguel Pereira, já era madrugada, uma escuridão, e estávamos perdidos. O lugar estava deserto, não parecia haver ninguém a quem perguntar a direção do hotel. Vimos, então, um velhote. Cheio de esperança, fomos falar, mas ele estava mais pra lá do que pra cá.

Eis que vejo a certa distância um casal andando. Parti atrás deles de capuz levantado, cabeça baixa, na rua vazia, parecendo um trombadinha. Felizmente os dois não me viram antes, senão teriam saído correndo. Eles deram as orientações para chegar ao hotel e ficamos mais aliviados.

Percebemos que seria necessário contornar um lago de porte razoável, mas havia um pontezinha cruzando que poderia servir de atalho. Ahn... melhor não arriscar, ainda mais com malas. Pense só na gente caindo da ponte dentro do lago no meio do breu.

Fizemos todo o caminho contornando o lago até o hotel. Apertamos o botão do interfone. Nada. Afundando o botão no interfone. Nada. Batemos palmas, chamamos. Nada. Acho que não tínhamos o número do telefone, ou o celular não poderia ligar. Começou a bater o desespero. A gente ia ficar preso do lado de fora do hotel no frio, sem dormir, exaustos?

Só havia uma opção: eu precisaria pular o muro e procurar alguém lá dentro. Se o casal já achasse que eu era delinquente, agora teria toda a certeza.
Subi na mureta e pulei por cima da grade. Andei até o prédio e, do nada, surgiu um homem lá de dentro. Ele levou um susto e ainda me deu bronca por ter feito aquilo. Engraçado que ele estava dormindo e não ouviu nada...
Conseguimos enfim fazer o check-in, esgotados.

No dia seguinte, à luz do dia, demos graças a Deus por não termos pegado a ponte: era uma coisa frágil de madeira e sem dúvida teríamos parado no fundo do lago.
No fim das contas, foi uma viagem prazerosa só com esses pequenos incidentes. Foi assim que comecei minha carreira no crime.

sexta-feira, agosto 03, 2018

Doce tempo

A viagem estava demorando muito. Resolvi comer brevidades.