quinta-feira, março 30, 2006

"Diga-me com quem conversas e eu te direi quem és"

É, a faculdade já está atrapalhando meus posts aqui e, logo, não prometo nenhuma regularidade. Este texto não deixa de ser uma homenagem e, por "encreça que parível", acho que poderia listar muito mais características e nuances das personalidades das pessoas de quem trato, mas não queria escrever uma tese sobre o assunto. Quem sabe algum dia eu detalhe mais? Não, não fiquem desesperados, é apenas uma hipótese...
***
A primeira, e mais velha, tem um nariz grande e uma cara gorda, com um corpo esbelto e pernas sexies. Gosta de resmungar com sua voz grossa e é muito charmosa, mimada - adora que dêem comida na sua boca - metida e preguiçosa (dorme em qualquer situação).
A segunda tem um corpo bem grande e uma voz que mais parece de gay, suave - não consegue nem gritar - além de dar indícios de que gosta da primeira, despertando, assim, suspeitas quanto a sua sexualidade. É muito sensível e medrosa e se acha uma gata, mas adora ficar suja. Adora comer e tomar sol.
A terceira tem uma cabeça muito grande e um olho maior ainda, com perninhas finas. Adora irritar os outros com sua teimosia e sua voz fina e histérica, repetindo frases e palavras, além de ser hiperativa e geniosa.
A última, que é gêmea da segunda e da terceira, tem um corpo bem pequeno para sua idade e olhos puxadinhos, e é meiguinha e lerda de pensamento, com uma voz que parece de "lesada". Adora andar para trás.
Todas essas quatro são pessoas com quem converso. Na verdade, não são exatamente pessoas, mas consideradas como tais: são meus animais de estimação, jabotas, as ditas "meninas". Seus nomes são até bem humanos: respectivamente Thalita, Vitória, Zilda e Magali. Não olhe para mim desse jeito, como se eu fosse maluco. O que tem de mais conversar com seus bichos? Com certeza, você também faz isso com seu cachorro, gato ou outro animal que tenha. Não é porque meu animal de estimação não é tão comum - a propósito, jabota é a fêmea do jabuti, como já me cansei de dizer, não tartaruga - que vou ser mais maluco.
Tudo bem que dar vozes e verdadeiras personalidades para elas não deve ser tão normal assim. Pode-se falar que isso, assim como a mãe de um amigo meu falou, é "o princípio do começo". Se é que você me entende. Mas é verdade que travamos verdadeiros diálogos com elas, pois até fazemos suas falas, grossas, finas, suaves e "lesadas". Não, nunca fomos internados, mas acho que não falta muito para isso.
Mais do que nossos passarinhos, que sempre estão morrendo e, dessa forma, não formam um vínculo tão forte - à exceção de Zento - nossas jabotas fazem mesmo parte de nossa família, como acontecem com muitos animais, visto que as mais novas já estão há seis anos conosco. Suas personalidades foram tão solidificadas que até originaram as minhas histórias em quadrinhos, em que elas são as protagonistas, super-heroínas habitantes de uma ilha do Pacífico, Super Gorda e Super Trigêmeas. Ou pode-se dizer também que as histórias contribuíram para essa solidificação.
Dessa forma, vemos que os animais não são simples seres inferiores, mas seres vivos que merecem respeito e que nos acompanham e também ajudam, ainda que, às vezes, não sejam animais convencionais. Eles não merecem ser maltratados só porque temos poder e alguns deles não podem se defender ou falar nossa língua. Apesar disso, uma conversa não é nada anormal.

"Se rir fosse bom, hiena não comia carniça" (Hilário V. B. Cumaddig)

quinta-feira, março 23, 2006

...munMUNmundoDOdo...

Estou de volta com meus textos "reeditados", com mais uma história, que nem sei bem se está bem elaborada. Mas foi apenas uma ideiazinha que quis colocar na tela. Deixem de ler!
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Nudmo Odnum adora ler. Não perde a oportunidade de ler em todos os lugares onde está, não importa a situação. Até no caminho que faz a pé de um lugar a outro, lá está ele lendo. E é por isso que Nudmo caminha pela praça nesse momento, alheio a tudo, apenas concentrado no livro em frente ao seu rosto. Transeuntes se irritam com seu descaso e muitos esbarram nele. Mas ele não se importa, nem quando um motorista o xinga, passando rente ao menino.
A história é muito interessante e tem muito a ver com ele: conta sobre um garoto que, gostando muito de ler, resolveu andar perto de casa, até o dentista, lendo um livro, não se preocupando com o resto ao redor. Seu livro trata de um menino apreciador da leitura, que não larga o livro um minuto, até quando anda pelas ruas num tremendo frio.
Mas Nudmo não pôde saber do assunto do livro do garoto que estava na história do livro do menino, cuja história era contada no livro de Nudmo. Dessa vez o esbarrão é mais forte e o menino leitor cai no chão, só vendo que dois homens correm pela praça a sua frente, levando o livro. Nudmo esquece-se completamente do dentista e, aficionado pela história misteriosa, corre em desabalada carreira atrás dos ladrões.
O garoto vê os dois desaparecerem ao dobrarem a esquina e, aflito, aumenta a velocidade, sentindo o vento gelado fustigar seu corpo. Na rua seguinte, ele avista um vendedor de rua anunciando promoções e, de relance, vê a capa de seu livro. Rapidamente, ele pára e, com sua mesada, compra-o. Agora Nudmo não precisa mais se preocupar. Só precisa reiniciar de onde parara.
O livro do segundo menino diz ser sobre um menino que adora ler... mas era a mesma coisa! Achando que a seqüência interminável ocuparia o livro todo, Nudmo se espanta ao ler que o menino do livro não conseguira ler o resto porque fora derrubado e roubado. Mas, sem se importar com os compromissos, o garoto perseguiu os delinqüentes até dar de cara, por acaso, com o livro desejado.
Nudmo já está zonzo com aquilo tudo. Ele segue mais no livro e percebe que teria de interrogar o vendedor acerca dos bandidos. Só um teste, pois a resposta já está estampada nas páginas do livro.
- Viu dois homens correndo com um livro na mão?
- É claro, foram para lá. - ele aponta uma porta estreita numa casa verde ali perto - Roubaram você?
Nudmo nem responde, espantado que está com os fatos iguais, assim como acontecia com o menino do livro, ao ler seu próprio livro. Será que o livro teria sua vida toda? Mas ele é bem pequeno. Então iria até que parte? Ele resolve não olhar mais à frente, deixando a curiosidade de lado; não quer saber do futuro próximo. Quem sabe ele não morreria daqui a pouco? "Estou ficando maluco!", pensa o garoto, adentrando a casa verde com o livro na mão, marcado na parte em que parara.
Agora ele se encontra num hospício. Nudmo está assustado diante dos homens e mulheres que o fitam com olhares débeis e que agem de modo estranho. Um dos enfermeiros surge, saindo de um quarto, com o livro de Nudmo nas mãos. Mas ele não é um dos ladrões. O menino corre para o enfermeiro, mas é barrado por outro no corredor.
- O que você está fazendo aqui? Os loucos já te deram esse maldito livro? Muitos deles vieram parar aqui por causa dele. Largue isso! Não leia!
Ele arranca o livro da mão de Nudmo e se afasta, decidido. Estarrecido, o garoto só consegue olhar para o lado, para dentro do quarto ao lado, cuja porta está aberta. Lá dentro, estão os bandidos que Nudmo perseguia, mas com camisas-de-força. Ou haviam lido o livro ou queriam continuar a lê-lo, depois de loucos.
"Puxa, será que isso é verdade? Um mero livro não vai fundir a cabeça de ninguém!" Um paciente se aproxima e lhe estende furtivamente outro exemplar do livro que o enfermeiro levou embora. Dizendo "com os cumprimentos de Napoleão", o maluco se distancia.
A curiosidade é mais forte e Nudmo folheia o livro até a parte em que o vendedor respondia a sua pergunta. Depois disso, os acontecimentos se repetiam detalhadamente. O menino já está assustado, imaginando se ele mesmo não estaria na verdade num livro, uma vida inventada por outros. Da mesma forma que o menino do livro agia.
A história continua depois com a reaparição do enfermeiro, repreendendo Nudmo e dizendo:
- Garoto, você está ficando maluco! Esse livro está te prendendo, não percebe? Ele não vai te revelar nada! Me dê ele aqui. É sério!
Parecia a Nudmo que ele ouvia um eco da fala do livro. Pensando que a maluquice já está agindo, o menino levanta a cabeça e dá de cara com o mesmo enfermeiro que lhe confiscou o livro. Ele volta a olhar para o livro e vira a página, ávido por saber do resto. Mas só há uma folha em branco, sem nenhuma letra. O que aquilo quer dizer?
Olha novamente para o enfermeiro, no exato momento em que a palavra "sério" sai de sua boca. Seu rosto enfurecido é a última coisa que vê antes que tudo se torne alvo. Para sua mente, tudo ao redor, até seu próprio corpo, some. E ele perde a noção do mundo.

segunda-feira, março 20, 2006

Econotícias - 1ª edição

Sim, pode ter sido um erro colocar tal texto aqui, mas só quis expor minha aventura "jornalística". Como um amigo meu da faculdade viajou na 1ª semana de aula da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, e eu fiquei encarregado de informá-lo dos acontecimentos, tive a idéia de fazer um jornal virtual, que o informou diariamente, não muito ortodoxamente, mas bem, a meu ver. Como acho que a publicação de um texto como este é um suicídio, pela restrição da compreensão geral, postarei apenas este, falando do dia 13/3, 1º dia de aula, para conhecimento do público. Entediem-se! (o melhor de tudo são as onomatopéias iniciais)
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Pã nãnã nãnãnã pã nãnã nãnãnã tãtãtãtãtãtãtãtãtãtã tã nãnãnãnã tãnãnãnã!
Bom dia! Por motivos muito graves - um aniversário de um amigo - que não se repetirão, este jornalista não pôde informar o internauta das notícias da ECO ontem à noite.
Ontem, o repórter que vos fala chegou atrasado ao 1º tempo e não pode dar informações detalhadas sobre o início da aula. A 1ª aula consistia na matéria Sistema e Tecnologia de Comunicação, ou simplesmente STC, presidida pelo prof. Diego London. Este, antes do jornalista chegar, já citara as avaliações que seriam feitas, entre elas um seminário, mas não passou oficialmente nenhuma delas. O professor falou sobre tecnologia, sobre questões muito profundas, como "O que é máquina?" e "Os animais se comunicam?", sobre o mito de Prometeu, entre outras coisas. Ele também passou 2 textos, que já estão em sua pasta na xerox do C.A., para ler para quarta-feira, próximo dia de aula dele.
Após tal aula, seria Língua Portuguesa II. Como mostra o horário afixado perto da entrada da ECO, só existem mesmo as turmas EC1, EC2 e ECE e não havia problema algum na inscrição. Porém, embaixo do nome da matéria, só estava escrito "Prof", sem o nome do docente. Os alunos ficaram divididos quanto a quem seria tal professor: Agostinho novamente ou uma tal professora. Como o professor não aparecesse, os discentes já tinham como quase certo que fosse Agostinho, faltando de novo, e ficaram pelos corredores, conversando.
Já tendo passado das 15h30, uma mulher interpela o grupo onde estava o repórter se nossa turma tinha aula de LPII naquele horário e, como uma garota já nos perguntara isso antes, o jornalista pensou se tratar de uma aluna. Porém, para surpresa nossa, ela diz ser nossa professora de Português e fala que dará um recado. Adentramos a sala e ouvimos a desculpa da nossa nova professora, que se chama Érica: ela entrara na turma errada, uma turma de 1º período, e começara a dar aula, sem saber de seu erro. Já no final do tempo, os calouros informaram à professora que ela não deveria estar dando aula ali, mas parece que a deixaram dando aula apenas porque estavam com tempo vago (aparentemente teriam LPI). A professora enganada saiu correndo para nossa sala, a tempo de comentar a situação e entregar sua ementa, dizendo também que haverá um seminário, mas não passou nada oficialmente.
E, dentro deste contexto, afiguram-se algumas notícias: enquanto esperávamos o professor de LPII, Luísa, da nossa turma, resolveu ir à livraria ao lado de nossa ex-sala (a propósito, nossa sala mudou de lugar; se não me falha a memória, é a 1ª sala "grande" depois do C.A.) perguntar sobre a pasta com nossos trabalhos do Agostinho. Ela descobriu que o tal professor pegara os trabalhos antes do Carnaval, ou seja, há mais ou menos 2 semanas! Agora só nos resta esperar ele corrigir.
E, ainda continuando neste assunto, uma garota que estava na aula de LPII, mas que não é da nossa turma, disse que, quando teve aula de LPI, com Agostinho, faz um tempo, o tal professor não faltava e entregou as notas no prazo certo. Ou seja, aparentemente ele teve algum problema período passado - talvez o problema da visão - que o prejudicou, ou foi apenas preguiça e cara-de-pau mesmo.
Depois de tantas emoções, ainda restou-nos fôlego para mais uma aula, agora de Comunicação e Economia. Havia boatos de que o professor, Eduardo Reffkalefsky (saúde!), ou simplesmente Reff, como ele mesmo falou, é um picareta, que só fala contra a IgrejaUniversal, que fica falando sobre diversos assuntos que não têm nadaa ver com a matéria e que passa boa parte da aula lendo os textos que passa para fotocopiar, além de passar milhares de textos. Este repórter pôde conferir que o professor realmente fala sobre diversos assuntos que aparentemente não têm relação com o curso, fica lendo os textos e citou duas vezes a IgrejaUniversal, falando mal dela.
Mas ainda é cedo para dizer se realmente ele é um picareta ou sua aula foi apenas uma introdução, e se haverá milhares de textos, porém tudo leva a crer. Mas, por enquanto, ele só passou para a xerox textos que parecem ser leves e divertidos, além de pequenos, como o "Manual do cara-de-pau",totalizando 5 textos que devem ser lidos para 5ª-feira. Este jornalista já encomendou todos os textos na xerox, mas ainda não os recebeu, o que o levou a pensar em processar o dito estabelecimento.
Como, aparentemente, não me resta notícia alguma para ser dada, o seu jornal virtual fica por aqui.
Bom dia e boa viagem!

sexta-feira, março 17, 2006

“Um corpo na gaiola" II

Não, não vá embora! Não é o que você está pensando! Eu não vou continuar aquela história modorrenta da morte do meu passarinho. Só estou fazendo uma alusão ao assunto tratado por mim no post anterior. Acredite se quiser, mas aquela “historinha” de antes era para ser só uma introdução para o tema em mente. Imagine você lendo um texto monstruoso, de 1000 km, uma "tonelada" de comprimento. Eu não iria fazer tamanha tortura. A não ser que pudesse ser pior.
Mas você deve estar pensando: qual será o assunto? Passarinhos assassinos? Bichos de estimação interesseiros? Ou, ainda, conflitos familiares por um nome? Bem, realmente esses seriam assuntos muito interessantes, mas não é nada tão edificante assim. Prefiro falar de histórias do mesmo gênero que a que contei: histórias policiais.
Desde que me entendo por gente, gosto de ler. Influenciado pela minha mãe - é difícil achar algum familiar próximo que goste de ler mesmo, além dela - fui cultivando meu gosto pela leitura e descobrindo um prazer que muitíssimas pessoas não enxergam - o que é uma pena. Com o tempo, fui filtrando meu gosto, percebendo os meus maiores prazeres dentro daquele prazer. Além de livros de aventura e fantasia, com certeza um dos meus "subprazeres", o principal é o gênero policial. Bem junto a ele, lá também estão histórias de suspense, mistério, não necessariamente policiais.
Estive perscrutando minha mente, à procura de uma possível origem, de um provável incentivo inicial para minha preferência. Minha memória não me ajuda muito, mas dessa vez consegui lembrar de indícios muito importantes. Na 5ª série, um dos livros paradidáticos chamava-se "O gênio do crime", do autor J. C. Marinho Silva. Era a história de um grupo de meninos, Edmundo, Pituca, Bolachão e Berenice, que investigavam a identidade do personagem-título, juntamente com o detetive inglês Mister, passando pelo rapto de Bolachão pelo criminoso. É um livro muito lembrado pelos ex-alunos do Pedro II que o leram, como eu. Mas é claro que todos esses detalhes só foram reavivados quando desencavei o livrinho do meu armário.
Mas mais importante ainda é a biblioteca pública de que sou sócio desde 96. Começando naturalmente pela seção infanto-juvenil, encontrei livros de mistério como os de Stella Carr, Marcos Rey (Coleção Vaga-lume!) e Pedro Bandeira - os tão conhecidos livros do grupo dos Karas, formado por Magrí, Calú, Chumbinho, Miguel e Crânio, com o Código Vermelho, o Tênis Polar, num total de cinco livros (e dizem que o sexto vem por aí!). Nessa biblioteca, estava minha iniciação aos policiais, complementando a biblioteca do Sesc, aonde comecei a ir ainda pequeno. Felizmente, depois de algumas mudanças, moro bem pertinho da biblioteca pública e a freqüento sempre.
E o que dizer de "O caso dos dez negrinhos", da Agatha Christie? Para mim, o melhor livro da autora, com uma trama engenhosa, sem precisar de detetives para sustentá-la. Li também outros dela que tenho aqui em casa - livros da minha mãe - mas foi esse livro, principalmente, que me levou a policiais mais "adultos" - apesar de quase ter desistido de ler Agatha Christie devido ao final de "Assassinato no Expresso do Oriente".
Os casos de Hercule Poirot, Miss Marple e Tommy e Tuppence me levaram aos de Sherlock Holmes e Watson, o que é elementar. Cheguei às aventuras do ladrão de casaca Arsène Lupin, do autor Maurice Leblanc, agora levado por um grande amigo meu, também apreciador de policiais - esses livros são muito antigos, mas, pelo menos na minha querida biblioteca, achei vários deles; não há só em sebos.
Na feira de livros na praça perto de casa, descobri um autor pouco divulgado por aqui: James Patterson. É difícil achá-lo em português em livrarias e em bibliotecas, sendo que geralmente são os mesmos poucos livros, apesar de existirem muitos livros publicados. Só fui tomar conhecimento dele por um filme, que na Net quase não passa: "Na teia da aranha". Comprei o livro em que foi baseado - como de praxe, muito melhor que o filme - e, depois, não pude deixar de levar outros dois: "O beijo da morte" - que também virou filme - e "Caçada ao predador", os três com o detetive Alex Cross, além de ler "Esconde-esconde".
Que eu me lembre agora, esses são os meus principais conhecidos de leitura, e já estou me familiarizando agora com Hieronymus (Harry) Bosch, do autor Michael Connelly, que eu já estava para ler há um tempão, mas que não encontrava. Em breve, encontrarei Marlowe, de Raymond Chandler, e Spinoza, de Garcia-Roza, além do suspense de Koontz, que estão à espera de minha aprovação.
E, assim, vou seguindo lendo e conhecendo cada vez mais personagens únicos e autores ímpares, ou apenas simples personagens e simples autores, não me esquecendo de assistir também a filmes policiais, de suspense, de mistério, mas que não ultrapassam minha preferência pelos livros do gênero.
Sim, já estou para acabar. Se você conseguiu chegar até aqui é porque também tem um certo gosto por esse tipo de literatura, pois senão acho que não agüentaria ler tudo. Além do mais, em que a minha vida lhe interessa? Mas o suspense e o mistério sempre interessam a muita gente, com seu clima de surpresas e truques, de revelações e tramas bem urdidas. Mas isso nem sempre é o bastante para atrair de verdade pessoas para a leitura, ainda mais com diversos fatores negativos atrapalhando, como falta de incentivo e de bibliotecas, entre outros.
Porém, fico feliz que também haja gente que cultive esse gosto e que lerá tudo até a última linha. A linha onde sempre ficará um jogo de palavras ou letras, exceto nos dias de história. Dessa vez, o que surge é um pangrama, trecho curto que contém todas as letras do alfabeto, em inglês:
“The quick brown fox jumps over a lazy dog”
***
Este texto até que não tem muitos problemas, mas queria acrescentar alguns aspectos que o tempo modificou, ou nem tanto: a biblioteca do Sesc não mais empresta para não-sócios (como eu) e não pude mais ir lá, porém já a substituí pela Biblioteca Popular do Rio Comprido, um pouco afastada, mas boa; já li todos os livros do Michael Connelly que estavam ao meu alcance nas bibliotecas, são difíceis de encontrar, mas gostei muito, porém ainda nem li nada dos outros autores que citei, só um livro da P.D. James e mais uns do James Patterson e do Dennis Lehane (que estou lendo agora).

quinta-feira, março 16, 2006

"Um corpo na gaiola"

Juntando-se a meu habitual esquecimento, veio o início da faculdade para desestabilizar meus posts aqui, mas estou de volta agora. Este é outro dos textos meio desatualizados, mas que vale a pena postar, ainda mais que é um gancho para outro post. Aqui relato a morte de meu passarinho e suas "consequências". Não leiam!
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Num sábado de manhã, fui dar uma olhada nos "meninos" - como chamamos nossos passarinhos - e me deparei com uma cena imprevisível: na gaiola da direita, um deles estava estendido no chão, imóvel. Olhei bem e percebi que havia sangue junto às patas e ao bico dele, além de no pote de areia, que estava no canto oposto a ele, um pouco acima do fundo. O sangue era maior perto de seu bico aberto.
Desconfiei da esposa do falecido, Nicoll, uma linda mandarim parda, que brigara muitas vezes com o marido e dava muita bola para o macho vizinho, Joe. Numa daquelas brigas, ela poderia ter machucado "Rabudinho", o esposo, só para ficar com o outro. Olhei prontamente para ela, procurando vestígios de sangue, mas nada vi. Era pouco provável que ela conseguisse fugir de uma gaiola para outra, ainda tendo que brigar com a outra fêmea, Janaína. A não ser que tivesse um plano engenhoso em mente.
Resolvi chamar um médico para me informar melhor e, quando telefonava, minha irmã chegou. Tive de informá-la da má notícia, dizer-lhe que o pássaro durara pouco mais que um mês e meio. Triste, ela retirou cuidadosamente o corpo da gaiola e, juntos, analisamos. Logo vimos como ele morrera: o bico por dentro estava todo sujo de sangue, logo ele cuspira sangue por causa de hemorragia. Daí a grande quantidade de sangue junto ao bico. Mas por que isso acontecera? E como o sangue fora parar no pote, junto à base, justamente do lado oposto para onde o bico estava virado?
De repente, a campainha tocou. Quem seria? Abri-a de chofre e dei de cara com o médico, acompanhado por dois tiras. Ele encarregou-se de explicar que achara melhor chamarem policiais para investigar. Assenti e deixei-os entrarem. Os três foram para a sala, onde minha irmã colocara o corpo num papel-toalha, em cima de um móvel. A luz batia próximo ao morto, incidindo também nas "meninas" - dessa vez, são as nossas jabotas - que tomavam banho de sol. Nessa cena pitoresca, o médico-legista analisou o corpo detidamente e confirmou nossa hipótese, além de supor que o pássaro morrera há pouco tempo, entre uma hora e duas horas atrás. Mesmo assim, ainda iria fazer uma autópsia para tirar qualquer dúvida.
Agora era a vez de olhar a cena do crime. O médico e os policiais criticaram minha irmã por não deixar o corpo do jeito que estava, ainda mais que ela não usara luvas, estragando possíveis digitais. Ela colocou o corpo de volta ao seu lugar, e nossas suposições continuaram a ser confirmadas, mas o sangue do pote, por enquanto, continuava indecifrável.
Os policiais chamaram a mim e a minha irmã para nos fazerem perguntas. Afastados das gaiolas, nos revelaram que Nicoll era a principal suspeita, ainda mais que era muito parecida com a famosa assassina procurada pela lei, apelidada de Viuvinha-negra. Olhei espantado para Nicoll, que me lançou um olhar indiferente. Os tiras a interrogaram e tiraram suas digitais para comparar com as da assassina. Todos os outros pássaros, inclusive os calafates que vivem no viveiro em baixo, deram depoimentos, mas não se chegou a nada: eles estavam tomando banho ou comendo ou fazendo cafuné um no outro, em suas vidas atarefadas e estressantes. Até as meninas depuseram, mas elas alegaram que tinham uma visão muito ruim, além de nem terem orelhas.
Desanimados, os três foram embora, prometendo ligar para dar notícias, e deixaram um telefone de contato. Ficamos em casa sem fazer nada, encucados com aquilo tudo, enquanto os passarinhos ficaram torrando nosso saco, pedindo recompensas por responderem perguntas tão enfadonhas, querendo que trocassem a água da banheira ou dessem arrozinho ou vitamina. As jabotas resolveram repetir a tática e começaram a pedir peixe. Irritado, coloquei-as na cozinha e tranquei a porta, enquanto nos refugiávamos na sala.
Nessa hora, foi a vez de meu pai chegar, depois de andar de bicicleta. Espantado, ele foi bombardeado por informações que começamos a dar sobre a morte de "Rabudinho", que meu pai cismava de chamar de Zento; o pássaro novo não recebera um nome fixo, por não entrarmos em consenso, e acabara morrendo assim. Nosso pai observou a gaiola, intrigado, sem entender o que acontecera.
Depois de muita reflexão, ele entendeu tudo - ou pensava que tinha entendido - quando o telefone tocou. Era um dos tiras, dando o resultado da autópsia e fornecendo as hipóteses. Meu pai conversou com ele e confirmou tudo: o passarinho morrera por causa de um fio de náilon do ninho, que ele gostava de ficar puxando. O fio acabou machucando-o e assim ele morreu. Já sabendo que Nicoll não era a Viuvinha-negra, o tira chamou nosso pai para depor.
Porém, ele não voltou da delegacia. Liguei para lá e descobri que ele fora preso por homicídio doloso, pois comprara aquele ninho e, mesmo sabendo do fio, não fez nada para tirá-lo. Com raiva, fomos para o lugar onde ele estava temporariamente encarcerado e, lá, começamos a discutir com os policiais, argumentando. Os tiras nos acalmaram, dizendo que logo, logo meu pai iria sair da cela, pois ninguém ficava muito tempo na prisão.
Ainda com raiva, saímos da delegacia e fomos para casa. Eu ainda estava desconfiado da Nicoll, mas não tinha provas. Zento, o verdadeiro, o pseudo-imortal, sempre vivera bem até Nicoll chegar e acabara morrendo, talvez por causa do amante Joe. E agora, o substituto dele, "Rabudinho", morrera. Muita coincidência. Para mim, não importava: continuaria a chamá-la de Viuvinha-negra.
Hoje, uma semana depois, Nicoll continua sem marido, mas ainda não fez nenhuma tentativa de fugir de sua gaiola. O corpo já foi enterrado num vaso com terra por minha mãe. Meu pai já está livre e, dentre em pouco, comprará outro mandarim para fazer companhia a Nicoll. Talvez uma maldição pese sobre ela e, depois de um tempo, haverá a terceira vítima...

quinta-feira, março 09, 2006

Sou todo olvidos

Às vezes penso que exagerei um pouco neste texto, ainda que minha memória seja bem ruinzinha, sim. Para saberem, só realmente convivendo comigo. Mas eu não desejo isso nem para meu pior inimigo...
***
Vocês devem não ter percebido que fiquei ausente por um tempo. Depois que voltei de viagem, só postei uma vez e olhe lá! É... bem... admito que não tenho desculpa, foi apenas distração, esquecimento, ou como vocês quiserem chamar.
Durante esse ínterim, meus 435 não-leitores ficaram preocupados comigo e também interessados por palíndromos, anagramas e afins, depois do post "Palavras". Fui bombardeado pelos pedidos deles, principalmente do meu xará Gabriel Gusmão, da minha admiradora Thayllanny Nayara, e da minha jabota heroína, Super Gorda. Mas quem me convenceu mesmo foi meu grande amigo Hilário. Pois, a partir de hoje, ao final dos posts, colocarei tais "jogos" de palavras. Sei que vocês não vão adorar muito.
E agora... do que eu ia falar mesmo? Ah, sim! Sobre a minha ótima memória. Sem sombra de dúvida, a frase que mais falo é "Ih, esqueci!". Se é que não olvidei de alguma outra – vou ser obrigado a usar palavras alternativas. O esquecimento começa pelos objetos: já perdi mais de um guarda-chuva, botando minha mãe fora do sério, além de esquecer coisas variadas em diversos lugares, como material escolar, casaco, até o celular. Sorte que eu conto com a sorte, senão teria que ser gasta uma dinheirama. Sempre procuro colocar os objetos os mais próximos possíveis de mim, evitando, por exemplo, colocar o guarda-chuva para secar num canto. Ainda bem que eu sinto falta dos meus óculos, senão eu perigava perdê-los.
Mas é claro que meu esquecimento não se resume a meros objetos. Acho que o pior é o que tem que guardar na mente, o que não deixa de estar ligado com o fato de lembrar que o objeto tem que voltar para casa, e não ficar abandonado ou ter um novo dono. É muito perigoso falarem para mim: "Me lembra de tal coisa?". Não confiem na minha memória atrofiada, eu aconselho de pronto. Lembrar de fazer algo ou de algum fato ou de quando aconteceu certa coisa: não contem comigo para isso. Só quando é algo bem marcante, que fica incrustado na minha mente, ainda que não tenha um motivo certo, ainda que seja uma lembrança totalmente desimportante; de qualquer jeito, tem que estar gravado mesmo.
O problema é que isso tudo não é um problema só meu. Claro que eu sou ruim mesmo, mas milhares de pessoas têm, atualmente, um sério problema de memorizar as coisas. Em parte pelo estresse, em parte pela avalanche de informações, dados, palavras e mais palavras invadindo nossa mente, entrando na minha mente já não tão eficiente. O jeito é filtrar tudo, pegar uma Penseira - leitores de Harry Potter sabem do que estou falando - e tacar fora tudo de porcaria ou de pouco importante, ou pelo menos esvaziar um pouco o cérebro.
Sempre exercitar a memória é muito bom, tanto em palavras cruzadas e demais jogos próprios para isso - como o velho joguinho com cartelas e pares de desenhos iguais - quanto em exercícios que você mesmo pode criar para malhar o cérebro – não é só tórax, bíceps e todo o resto propalado pelos fisioculturistas. Bem, todos os diversos métodos de ajudar a memória já foram muito divulgados pela mídia e muita gente já conhece vários, mas não põe em prática. Como já devem ter deduzido, eu também não sou adepto de jogos de memória, apesar de até gostar deles, palavras cruzadas em especial.
Tenho que me preocupar é com o passar dos anos. A tendência é que minha memória vá piorando, à medida que a preocupação, o estresse, as informações vão aumentando. Vou chegar num ponto em que não vou saber nem quem sou, de onde vim, para onde vou. Aliás, isso ninguém sabe. Acho que vou ter de contratar lembradores para mim ou gastar pilhas de papel com lembretes; fitas presas nos dedos e Lembrol não servem para droga nenhuma.
Ufa, escrevi demais! Agora é deixar o meu "joguinho" - hoje um palíndromo - e ir-me embora. Desde agora, farei isso sempre. Se eu não esquecer, é claro.

"Socorram-me, subi no ônibus em Marrocos!"

sexta-feira, março 03, 2006

ADIV

Não se desesperem, mas eu voltei mesmo! Retornei de uma viagem e já estou pronto para outra, pelos textos que escrevi. Não aproveitem!
***
"Do pó vieste, para o pó voltarás." O citado pó começa a se juntar, a tomar corpo, formando a carne, constituindo o ser. Gradualmente, se chega ao resultado final: um ser humano. Ele está usando uma roupa predominantemente preta, sapatos, e está enclausurado num grande compartimento de madeira.
Outros seres humanos, em meio a blocos de pedra, mármore, granito, começam a cavar e, findo o trabalho, retiram da terra o receptáculo. Este é aberto e o ser vivo é carregado até um hospital, sem esboçar movimento algum. Logo que é tirada sua roupa e colocada uma nova, toda branca, o homem abre os olhos e seu rosto demonstra sofrimento e dor. Tudo conseqüência da falta da roupa preta: esta o protegia do mundo e de suas intempéries; agora ele está frágil.
Davi, é o nome do homem, é tratado bem, recebendo visitas dos parentes, até que sara e sai do hospital. Ele é um homem idoso, cheio de rugas e cabelos brancos, e ainda tem muito o que viver, apesar de todo o conhecimento em sua mente. Depois de um tempo, começa a trabalhar e a viver mais intensamente.
Lentamente, com o passar do tempo, sua pele se alisa e seus cabelos vão ficando mais escuros. Ele começa seus estudos, vai à escola e encontra seus amigos, sem grandes preocupações, recompensado pelos vários anos de trabalho.
Com o tempo, quanto mais Davi rejuvenesce e encolhe, menos conhecimento ele tem do mundo e mais admirado com ele Davi fica. Mas chega a um ponto em que nem mais andar e falar ele sabe. Chegou a hora decisiva. Davi é levado para um hospital e cuidadosamente tratado por médicos. Uma mulher, Triz Rage, que sempre os ajuda, já está de prontidão.
Deitada no leito de operação e anestesiada, ela tem sua barriga cortada e, no buraco misterioso, Davi desaparece. Tudo é costurado e Triz sai do hospital para voltar a sua vida. Durante 270 dias, Davi vai involuindo e, gradualmente, volta ao pó.
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Todo esse processo maravilhoso, e verdadeiro, que acabou de ser relatado só foi possível graças à tecnologia inovadora, de última geração, da Assistência Dirigida à Inversão da Vivência, ou simplesmente ADIV. Nossa equipe sempre está à disposição, pronta a atender possíveis interessados. Confie em nós e tenha uma vida fora de série.