terça-feira, dezembro 29, 2009

Um pedido

Eles querem-na de volta. O que foi feito de sua casa? Ela sumiu num certo dia e já se passa quase 1 ano que não a veem. Morando em caixas de papelão, espalhados, desorganizados, empoeirados, amassados, esquecidos... Já não se sabe direito o que cada caixa reserva aos que a rodeiam. Diversos tesouros empilhados a esmo, sem uma ordem adequada. São depositários de letras e mais letras, que a princípio parecem apenas desenhos dispersos por uma superfície de celulose, mas que, ao unirem forças, geram algo tão surpreendente que nunca ninguém conseguiu, nem conseguirá, esgotar essa fonte.

A maioria deles foi trazida para lá pelo irmão de Liesel Meminger, filha de Markus Zusak. O garotinho, ainda pequeno, branquinho e de cabelo meio arrepiado na frente, aparecia no quarto e deixava, cada dia um – às vezes dois ou até três -, na casa que ainda existia, aliás, que ainda estava lá. Mas foi só no começo. Alexander – mais conhecido como Axt – chegou um dia e se espantou de ver que todos estivessem em caixas. Onde estava aquela grande estrutura de madeira, com diversos andares? Arrumou-se um jeito. Porém, aqueles livros já não suportavam viver embaixo de um pano sujo de tinta, tantos e tantos, que Axt já nem mais sabia quem estava ali ou não; não registrara a identidade de cada um. Melancólicos, os livros já iam perdendo sua identidade, sem saber o que era um lar. Outros mais vieram se juntar a eles, através de um veículo que transitava embaixo do oceano.

Até que chegou o momento em que até o menininho resolveu parar de levar a cabo a sua arte. Do que aquilo valia se os livros permaneciam negligenciados e perdiam seu encanto e seu poder mágico? Eles ainda não entendem por que aquele senhor de paletó e chapéu coco apareceu um dia, prometendo reformar a casa deles, e depois sumiu, levando a estante que lhes dava guarida. Só não há choro porque as lágrimas podem enrugar e manchar as páginas já empoeiradas. Mas os livros pedem encarecidamente solidariedade e respeito nesta época que teoricamente deveria ser de harmonia e perdão.


*Baseado em fatos reais.

segunda-feira, dezembro 14, 2009

Hoje Livre Sou

Pra variar, sempre tem que ter um texto-de-final-de-ano em dezembro. Lembrar o que aconteceu, fazer um “balanço” e planos para o ano que vem... Acho construtivo e saudável, sim. Ainda mais agora em 2009, pois foi um ano muito especial.

Como não sou economista nem tenho ações na Bolsa, não estava preocupado com “marolinhas” ou não, e com previsões de 2009 ser o pior ano de todos. Só não esperava que fosse ser tudo o que foi – de bom.

2008 não havia terminado bem para o grupo da Igreja de que faço parte, a Comunidade Duc in Altum: muitas “baixas”, desânimo, a iminência de acabar. Eu fazia parte do grupo desde seu início em novembro de 2005, a partir de um grupo de Crisma, passáramos por altos e baixos, mas acabar era algo muito forte e que nos derrubava.

Fora naquele grupo que eu começara a me engajar na Igreja, a amá-la e a Deus, onde fizera grandes amizades e conhecera minha namorada, mas não estava dando mais certo. Um membro da Crisma se ofereceu para nos ajudar e deu uma palestra. Ao final, a foto da reunião do grupo cheia, todos alegres, e ele nos questionou sobre o que tinha acontecido com aquelas pessoas e com aquele grupo tão ardoroso.

Ah, aquilo, bem ou mal, tocou no nosso orgulho: iríamos deixar a Comunidade acabar sem fazer nada, justamente depois das fundadoras terem se ausentado contra a vontade? Poderia ser Vontade de Deus que não continuasse, mas não acabaria sem luta. A coordenação mudou – eu fui um dos que saí – e fizemos reuniões de partilha e de oração; precisávamos crescer e nos unir. As reuniões voltaram a acontecer, chamamos pessoas novas, mudamos nosso jeito de ser, querendo partilhar e viver realmente juntos, e nos formar na doutrina, e missionar as casas com a presença de Nossa Senhora, e louvar a Deus todo mês.

As reuniões de equipe foram imprescindíveis para nosso crescimento e planejamento, até o Padre Carlos, nosso diretor espiritual, está sendo tocado e animado para esta nova missão renovada e restaurada. Como o Nelson, coordenador, disse, foi o ano da Confirmação: sim, Deus quer que continuemos, e a nossa festa de 4 anos comprovou isso. “Uma comunidade de barquinhos”, como o padre falou, em que ninguém naufraga e ninguém sai: “Desde a primeira vez que você põe o pé na Comunidade, você nunca mais deixa de fazer parte dela.”

É o ano de 2010 que promete agora. Promete também na minha vida profissional. Formado em Jornalismo, com uma monografia que deixou de ser um bicho-de-sete-cabeças como eu pensava, mas, ao contrário, foi uma bênção, pela oportunidade de estudar a Comunicação dentro da minha Igreja. Os professores até disseram que vai “virar bibliografia”, uma honra dada por Deus.

Mas não é Jornalismo que eu quero. Especialmente durante 2009, pude confirmar, em meio ao estágio dentro de uma editora de livros, conversando com amigos do ramo editorial e estudando na faculdade, que essa é a minha área de verdade. Sempre fui apaixonado por livros, por textos, Português, línguas e afins, mas não era em Letras que eu encontraria minha casa. Mas em Produção Editorial, uma habilitação do próprio curso de Comunicação em que acabei de me formar. Cheguei a querer sair de Jornalismo, desanimado, mas o incentivo das pessoas me dissuadiu.

Se não fosse por isso, como teria ido para o estágio na Assessoria de Imprensa da editora e feito grandes amigos? Se não fosse por isso, como poderia me formar e pedir manutenção de vínculo, podendo conseguir o diploma de PE em apenas 2 anos? E, para completar, após pedir muito a Deus, dezembro também me presenteia com uma vaga de estágio na área editorial, e justamente na parte textual! Amanhã começará esta nova fase em minha vida. Em dezembro, em primeiro lugar mês do nascimento de Jesus, mas também da Imaculada Conceição, cuja intercessão foi valiosa.

E todas as dores e tribulações eu pude suportar com a Presença essencial de Deus, mas também com a presença da Carla, que não me abandonou nem quando eu mesmo não dava razão para que ela continuasse, por eu estar mais dentro de outras coisas do que dentro do relacionamento. E, para reforçar nosso laço, outra mudança ocorrerá no início do ano: depois de 2 anos, voltaremos a servir juntos e, para isso, sairei de um outro serviço, em que já estava há 5 anos. E o serviço será na capela... da Imaculada Conceição.

Como falei, tenho confiança em Deus de que 2010 será mais um grande ano, abundante de graças. Deus sempre esteve e continuará olhando por mim. E por cada um de nós. É só se entregar a Ele e a seu Amor Incondicional. Seus caminhos são insondáveis, mas Ele sabe o que é melhor para nossas vidas. Eu tenho certeza disso! Tenha você também.