– Boa tarde. Gostaria de fazer a minha prova de vida.
– Qual é o nome do senhor?
– Malvino Coelho Moura.
– OK, só um instante… Temos um problema: o senhor não fez a prova de vida ano passado.
– Sim, é verdade, eu me esqueci. Sabe como é, a memória vai piorando com a idade... Queria regularizar agora meu benefício.
– Não será possível, senhor.
– Mas como não? Eu li na internet que basta se apresentar…
– Como podemos ter certeza de que o senhor estava vivo ano passado?
– Ora bolas, se estou vivo agora, como poderia não estar no outro ano?!
– Ah, o senhor não imagina os relatos reais de que eu soube. Pessoas consideradas mortas que voltaram à vida por um milagre…
– Mas elas não estavam mortas de verdade, né? Isso seria impossível.
– Estavam, sim. O senhor precisava ver a aparência decrépita de uma delas. Falou que nem morta ia perder a aposentadoria.
– Isso é força de expressão…
– Claro que recusei. Pior o outro que morreu de vergonha quando descobriu que tinha passado do prazo…
– A senhorita só pode estar brincando com a minha cara!
– Só queria testar seu senso de humor. O caso que aconteceu de verdade foi o de um cara que mostrou fotos do próprio enterro. Ele apresentou o atestado. Não sei como ele conseguiu ressuscitar.
– Meu Deus! Mas isso acontecia muito antigamente, a pessoa era dada como morta…
– Não, senhor, ele tinha morrido mesmo. E apareceu vivinho aqui na minha frente.
– Olha, não tenho todo o tempo do mundo. Poderia ver meu processo aí?
– O senhor poderia me dar sua identidade?
– Claro, aqui está… Ué, onde ela foi parar?
– O senhor saiu sem nada no bolso?
– Eu estava com minha carteira, mas não acho nada agora…
– Humm, o senhor poderia falar com aquele rapaz ali ao lado? Ele deve resolver a situação. Depois volte aqui.
– Claro, já volto…
A moça aguardou pacientemente, então o homem retornou.
– Esse cara é um mal-educado! Eu o chamei, fiz uma pergunta mais de uma vez, mas não, ele parece ocupado demais para dar atenção a um idoso.
– Senhor, sinto dizer, mas não será possível completar a prova de vida.
– Isso é um absurdo! Onde está o gerente? Vou fazer uma denúncia…
– Posso até chamá-lo, mas não vai adiantar: o senhor está morto, mas ainda não se deu conta.
– Sua lunática…
– Tente conversar com mais alguém na agência. Veja se não estou com a razão.
O homem se afastou xingando, preparado para reclamar com outro funcionário (ou pelo menos tentar).
Joelma suspirou fundo. Vida de bancária médium não era nada fácil.