quarta-feira, junho 12, 2019

Dona Terezinha

Ninguém podia imaginar o que se escondia por trás daquele sorriso terno.
Qualquer um que subia a colina pela estradinha de terra e batia à porta da cabana pedindo todo tipo de auxílio era recebido por uma expressão afável. O rosto de dona Terezinha prontamente se iluminava e a senhorinha mandava a pessoa entrar. Ela oferecia biscoitos e seu famoso chá de tulipas e, se o outro deixasse, desembestava a falar e podia conversar por horas a fio.
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O visitante costumava se oferecer para ajudar em alguma tarefa, mas ela apenas abanava as mãos nodosas e praticamente empurrava a pessoa para o assento de volta. Irrequieta, nem aparentava a idade que tinha. Apesar de levemente encurvada, seus movimentos eram ágeis. Em sua simplicidade, emanava uma beleza e serenidade que não passava despercebida por ninguém.
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A situação mudava de figura quando a visita não era cordial. Às vezes surgiam forasteiros querendo se aproveitar de uma pobre velhinha que morava sozinha e isolada. Às vezes apareciam pessoas que não queriam nada dela, apenas serem cruéis. Às vezes rondavam tratantes que conheciam os segredos dela.
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Como agora.
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Dona Terezinha espiava pela janela o homem que pensava estar bem escondido. Ela podia adivinhar que tipo de desconhecido era aquele. Aguardar ou tomar a iniciativa? Talvez fosse divertido esperar.
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1, 2, 3, 4, 5... Um impacto na porta. Ele achava mesmo que a soleira não estaria bem protegida?
As paredes estremeceram. O homem tinha mais poder do que ela imaginara.
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Dona Terezinha encostou as mãos no chão de terra e uma grande onda de energia se espalhou por toda a colina. Ela ouviu um berro de surpresa.
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A porta se abriu de supetão com um gesto da mão encarquilhada e a senhora saiu rapidamente. O estranho ainda se levantava, pronto para contra-atacar, quando as plantas começaram a crescer à sua volta.
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Eram tulipas cor-de-rosa, amarelas, vermelhas, brancas, roxas, seus caules e folhas se enroscando nas pernas do desconhecido e o tragando para a terra, o sufocando com seu doce aroma.
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O homem tentou resistir, mas, após alguns minutos de intensa luta, sumiu de vez.
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Agora dona Terezinha já podia fazer mais chá para as visitas.

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