sábado, julho 27, 2019

Noir

Ela parecia estar fora de vista. Eu me esgueirava pelos becos em meio à penumbra. O cheiro de gordura, fumaça e suor já me embrulhava o estômago.
Mas eu não podia perder o foco: ela estava atrás de mim, implacável.

Avistei a porta dos fundos de um bar, que dava para o lugar que eles chamavam de cozinha, de onde saía aquela comida nojenta. Me abriguei lá, pensando quanto tempo ainda tinha antes de ela me alcançar.

Podia sentir sua aproximação… Lá estava. Pela brecha, a vi passar, a arma na mão.
Talvez não desconfiasse se eu me metesse na latrina mais adiante. Ou se me jogasse dentro da caçamba de lixo.

Aguardei, suando frio. A qualquer momento ela iria voltar.

Num rompante, decidi que era hora. Atravessei a porta e saí correndo para a latrina.
Mas fiz a besteira de olhar para trás.

Ela pareceu se materializar das sombras e disparou a arma.
Fui atingido de forma certeira e desabei na sarjeta.

– Por favor, não me mate!

– Pedro, você quer parar com essa palhaçada? Já basta ter quebrado o vidro da janela, ainda fica fugindo de mim pela casa como se estivesse num videogame. Vai levar muito mais!


Minha mãe pegou o chinelo de volta e eu vi que era meu fim.

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