segunda-feira, julho 10, 2006

Mandarins, gaviões e borboletas

Sei que vocês já estavam "vivendo" de saudade dos meus textos grandes. Pois então tive a brilhante idéia de contar, para saciar o desinteresse geral, o que, afinal, aconteceu com meus mandarins após a fatídica morte de "Rabudinho", tão mal contada no texto "Um corpo na gaiola". Masoquistas, deleitem-se!
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O passarinho anomeado havia morrido... Nicoll, a suposta Viuvinha-negra, estava mais uma vez sem marido. Mas não tardou a aparecer um pretendente, cinza-claro e com um olho grande como o da vizinha Janaína. Queríamos colocar um nome com a inicial "N" também (o velho problema do nome...), mas não entrávamos em consenso. Nilmar, Nalbert, Nabucodonosor? Dei a sugestão de Neo, inspirado em Matrix, mas minha irmã, que não gosta do filme, recusou. Contudo, minha mãe se apropriou do nome e o deturpou, colocando-o como Nil (bléé!!). O problema é que não chegamos a lugar nenhum e acabou ficando esse nome deplorável.
Com esse marido, ao contrário de com o anterior, Nicoll se deu muito bem, ambos ariscos e agitados. Além do mais, Nil lembra Zento (lembram-se dele, do texto "Sem noção"? Claro que não, né?), adora rasgar jornal para colocar no ninho e "pimbar" (nosso dialeto para "acasalar", "namorar"), ainda que ele e Nicoll adorem matar filhotes, e tem o canto parecido com o de Joe, seu vizinho. Notícia fresquinha para os senhores, visto que só se passaram 1 ano e 1 mês que Nil está conosco!
Tudo ia bem, até o dia derradeiro... Como meu pai sempre faz, ele tinha colocado os "meninos" (passarinhos) na sala, para verem a paisagem e para tomarem sol: as 2 gaiolas dos mandarins no parapeito da janela e o viveiro dos calafates em frente a esta. Enquanto isso, eu estava no computador, querendo saber se o Corel Draw estava instalado, devido ao Laboratório que fazia na faculdade (no período que acabei de terminar, o 2º). Assim, chamei meu pai, que se encontrava na sala, para tirar a dúvida. Quando estávamos vendo isso, no quarto da minha irmã, escutamos os Bicões (como chamamos os calafates, Bicão e Biquinha) fazendo barulho, seu "pic pic" costumeiro, só que mais frenético, mas pensamos que fosse só alguma palhaçada que eles faziam de vez quando e não demos bola.
Porém, depois de um tempo, meu pai resolveu ir ver o que era. Quando chegou na sala - depois ele me contou - ele viu algo grande voando de cima das gaiolas dos mandarins. Olhando para o céu, lá estava um gavião. E, dentro de uma das gaiolas, Joe estava morto. A princípio, meu pai pensou que ele tivesse morrido de susto, mas, depois, viu que faltava um pedaço do corpo, mais especificamente a cabeça... Ainda bem que eu não vi, deve ter sido horrível; meu pai até contou pra minha irmã e pra minha mãe a primeira versão, para não chocar.
Nessa época, eu estava meio depressivo e fiquei pensando que tinha sido minha culpa o Joe ter sido atacado. Eu tinha feito besteira ao escolher o Laboratório (caíra num que não queria) e, por causa dele, tinha que instalar o tal Corel Draw. Assim, chamara meu pai, que, se estivesse na sala na hora, teria evitado a tragédia, já que o gavião não faria nada com um humano por perto. Fiquei pensando em mil e uma coisas, como no (ótimo) filme "Efeito Borboleta", em que pequenos detalhes geram um grande acontecimento, o bater de asas de uma borboleta que gera um furacão. Claro que depois vi ser tudo bobagem da minha mente, pois a vida toda é fruto desse tipo de coisa e não havia razão de eu ser culpado por nada.
Jana ficou, então, por muito tempo, sozinha. Isso porque não havia mandarim para comprar – o único disponível era careca e caolho – e porque não queríamos arriscar comprar um, que iria querer "namorar" e podia prejudicar Jana, que já tinha problema numa das patas, sem dedos (para quem não sabe, o acasalamento é feito com o macho subindo na fêmea). Contudo, chegou o dia em que surgiu um macho e ele veio pra casa. É o oposto de Joe: grande, gordo e com voz de grossa, e, como naturalmente, imitou o canto de Nil. O problema era esse: Jana sempre gostara de Joe, o seu oposto, e ainda o vira ser assassinado na sua frente.
Jana e Carlinhos (ou Charlie, nome dado a muito custo) não pararam de brigar um minuto, foi preciso fazer um ninho novo pra eles domirem separados, mas, depois de muito tempo, eles se conciliaram. Dá para perceber que não é a mesma coisa que com Joe, ainda brigam de vez em quando, mas está bem melhor. Jana soube se defender e não deixou ele vir com segundas intenções para cima dela - literalmente.
E assim continua até hoje, praticamente 2 meses depois de Charlie ter chegado aqui (08/05). É, ocorreram muitas emoções nesse ínterim e finalmente pude relatá-las, ainda que não sejam de interesse de ninguém. Algum dia ainda eu conto todas as histórias de meus passarinhos, suas diversas mortes e vários casais. Dá até pra fazer uma novela...

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