domingo, fevereiro 03, 2019

Minha mãe

A disputa com minha mãe sempre foi coisa séria. Outro dia ela viu que eu tinha deixado a luz acesa de vários cômodos e gritou:
– Você acha que sou sócia da Light?!

Eu respondi que ela era, sim, e entreguei uns documentos que comprovavam. Ela ficou olhando espantada e verificou que realmente agora fazia parte da sociedade. Demorei, mas consegui concretizar essa, já que lida com burocracias mundanas.

Por outro lado, quando eu não estou encontrando algo, evito ao máximo pedir ajuda pra minha mãe. Ela berra "Se eu for aí e achar, vou esfregar na sua cara!", e ela esfrega de verdade. Muitas vezes é bem dolorido, mas dá pra aguentar.

Porém, ter superpoderes pode ajudar. No dia que eu queria ir a uma festa, ela disse "Você não é todo mundo" e, no mesmo instante, eu absorvi centenas de personalidades e fui trocando de uma pra outra até minha mãe implorar que eu parasse e deixar que eu fosse.

Ou quando ameaça "Leva o guarda-chuva, vai chover" e eu movo as nuvens pra não cair uma gota sequer. Ela fica irritada e diz que não posso gastar meus dons só por birra. Mas não reclama se fala "Reza pra essa mancha sair da roupa", porque eu rezo e sai mesmo.

A parte boa é que ela cumpre "Na volta a gente compra" – ainda que às vezes seja a volta àquele lugar (que pode nunca se realizar) ou talvez a volta de Jesus Cristo.
Só que não dá pra brincar quando ela berra: "Não fica vesgo! Se bater um vento, não volta mais!" Uma vez eu fui desafiar e fiquei zarolho até descobrir uma forma de desvirar.

O mais gostoso foi quando ela se indignou, "Passou um furacão no seu quarto?", e eu tinha mesmo conjurado um minifuracão particular – mas exagerei um pouco e destruí alguns móveis.

O problema das minhas habilidades peculiares aparece quando minha mãe brada: "Me responde outra vez e faço você comer o chinelo!" Já comi uma vez e não recomendo.

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