sábado, novembro 17, 2018

Provação

Chegou o dia da prova. Luiza estava muito nervosa. Tinha estudado tudo do conteúdo programático, achava que iria se dar bem, mas não tinha jeito: sempre ficava nervosa antes de um concurso.
Acordara bem cedo, se aprontou, arrumou seu material, tomou o café da manhã. Iria sair adiantada para evitar qualquer contratempo.

Quando chegou ao local de prova, um funcionário veio falar com ela:
– Bom dia, senhorita. Implantamos um novo sistema e queria lhe dar as orientações. Pode esperar sentada num banco e confira sua sala num dos monitores espalhados pelo campus. Boa sorte.

Isso era meio doido. Havia tantas pessoas ali, iria demorar um bocado até aparecer o nome dela. Ansiosa, ela nem se sentou. Ficou esperando em pé, vendo os candidatos passarem aos poucos. Nem todos tinham salas definidas. Quando surgiu seu nome, enfim, estava escrito "Remanejamento".
Desesperada, ela foi atrás do funcionário que a atendera.

– Sinto muito, mas a senhorita foi remanejada para outro local de prova.
– O quê?! Mas como isso é possível?
– Provavelmente houve alguma confusão. Deixe-me consultar o novo local...
Ele mexeu num tablet e informou:
– Colégio São Silvestre.
– Mas fica longe!
– Infelizmente não posso ajudar mais.

Luiza não ia contar com a sorte: pediu logo um carro pelo aplicativo e pulou dentro. Mal o veículo estacionou em frente ao colégio, ela saltou e correu para o interior.
Mais monitores. Pelo amor de Deus. Inquieta, esperou seu nome aparecer. Ufa, era ali mesmo, sala 204.

Antes dos elevadores, alguns fiscais estavam fazendo alguma espécie de vistoria. 
– Senhorita, pode me entregar sua bolsa?
Sem ter o que fazer, Luiza entregou. O homem depositou-a numa balança e soou um apito.
– A bolsa está com excesso de peso.
– Mas o que isso interfere na prova?
– São normas da organizadora, não tolerar nada acima desse peso. A não ser que a senhorita tenha pagado uma taxa de excedente previamente. Estava no edital. A senhorita pode se desfazer de algumas coisas para chegar ao peso ou pagar pelo excesso.

Aquilo não podia estar acontecendo. Ela deu uma olhada dentro da bolsa, viu se era possível jogar algo fora. Como a diferença era pequena, deveriam ser poucos pertences. Tudo para o lixo.
O fiscal pesou de novo. Ela prendeu a respiração. Agora estava tudo certo. Furiosa, pegou o elevador. Finalmente encontrou sua sala.

A moça conferiu seu cartão e franziu a testa.
– Senhorita, a sala já está lotada. Acho que alocaram candidatos demais aqui sem poder.
– E o que eu tenho com isso??
– Não há cadeiras sobressalentes. Vejamos... – Ela consultou um tablet. – Há lugar disponível no Instituto Odisseia, aqui mesmo na rua, mais para o fim. – A moça consultou o relógio. – Mas vai precisar se apressar.

Atordoada, Luiza segurou a bolsa junto ao corpo e saiu em disparada pelas escadas. Ela sabia onde era o instituto, não tão perto assim. Não se importava com as pessoas que passavam, esbarrava em algumas, só olhava as fachadas. As pernas começaram a arder, sentia pontadas nas costelas.

O prédio já estava à vista. Ela entrou desabalada, então lembrou que precisava descobrir sua sala. Agarrou um fiscal pela camisa e exigiu que ele consultasse logo no tablet e parasse com aquela frescura de monitor.
Assustado, o homem informou e ela correu para a vistoria. Jogou a bolsa na balança, pegou-a de volta e subiu as escadas.

Sem fôlego, alcançou a sala. A funcionária arregalou os olhos para ela.
Luiza olhou para a sala. Estava vazia.

– Pessoal, chegou a primeira aprovada! – berrou a mulher para o corredor e começou a tocar uma sineta.
Agora foi a vez de Luiza arregalar os olhos. Sem reação, ela foi abraçada pela fiscal.

E assim Luiza passou na seleção da ANAC.

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