domingo, janeiro 20, 2019

Mauriciânia

Juliana sempre gostou de morar em Mauriciânia. A cidade funcionava muito bem, todos eram educados, seguiam à risca as leis. Não havia do que se queixar.
Tinha hoje um dia de folga, então pegou o carro para passear um pouco. Ir a um parque, andar a esmo, ler, tomar sorvete... Viu à frente um engarrafamento. Esse era o problema de folgar durante a semana, ainda mais que não tinha saído num horário muito adequado.

Mais à frente, o sinal estava vermelho. O jeito era esperar. Passaram-se os minutos. Nada. Juliana esticou o pescoço e notou que, na rua transversal, os carros ainda passavam normalmente, o semáforo parecia verde, sem indícios de que ia mudar.

A espera se estendeu, os veículos se aglomeravam atrás dela. Ela não lembrava que aquele sinal demorava tanto a abrir. À sua volta, as pessoas não pareciam se importar.
Juliana via seu dia de folga se esvair entre os dedos. O semáforo só podia estar defeituoso. O problema era que não podiam avançar o sinal fechado, seria uma infração. Decidiu aguardar, porque sem dúvida em breve tudo se normalizaria.

Às suas costas, não se via mais onde o engarrafamento terminava. Ligou o rádio do carro e ouviu o alerta para que as pessoas não pegassem aquela via. Porém, já era tarde demais, pois o trânsito estava caótico e ninguém conseguia nem tomar a rua transversal, que continuava com o sinal aberto, mas nenhum veículo passava.

Será que ela poderia abandonar o carro ali e ir a pé? Será que isso era contra as normas? Tentou pesquisar pelo celular, mas a internet estava ruim. No rádio, o jornalista avisava que as autoridades tentavam resolver o problema. Aparentemente estavam encontrando dificuldades para chegar ao local de controle, pois não conseguiam se locomover.

Ninguém saía de seus carros. As horas se estendiam. Havia se instalado um clima modorrento e os minutos pareciam se desenrolar mais devagar. Juliana invejou os pedestres, muitos aparecendo para tirar foto e filmar o engarrafamento. Ela já tinha desistido de pesquisar sobre abandono de veículo. Teve a ideia de perguntar ao motorista ao lado, mas, ao se virar, percebeu que ele estava cochilando.
O sono já se apossava dela. Toda aquela morosidade, imobilidade...

Despertou no susto. À frente, o sinal estava verde e os veículos passavam à sua volta tranquilamente, sem buzinar, aproveitando que enfim podiam avançar. Os carros e motoristas que lembrava estarem ao redor já tinham sumido.

Quando começou a andar, ouviu um apito e notou um guarda sinalizando que ela parasse. Não sabia o que podia ser. Encostou o carro no meio-fio.

– Bom dia, senhora. Sinto dizer, mas preciso lhe dar uma multa.
– Não entendo...
– A senhora estava dormindo ao volante, ainda mais no meio da pista, atrapalhando o trânsito.
Ele lhe estendeu a multa e se afastou.

Juliana encarou o papel e abriu um sorriso. Tudo permanecia do jeito certo.

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