domingo, janeiro 06, 2019

Murphy

Mateus abriu os olhos de supetão. Pegou o celular e viu a hora: caramba, estava muito atrasado!
Levantou num salto e se aprontou voado. A sorte é que a estação de trem era em frente à sua casa, só precisava atravessar a rua.

Quando saiu do prédio, o bonequinho de pedestres piscava. Ele tentou chegar a tempo, mas o sinal abriu e os carros seguiram, um fluxo pesado.
– Lei de Murphy, abriu bem na hora...

Depois de um bom tempo, conseguiu atravessar. Quando chegou à plataforma, viu que o trem lá não lhe servia.
– É, Murphy, você está demais...
Ele ouviu um pigarro.
– Perdão, senhor, mas Murphy não tem nada a ver com isso.

Mateus olhou para o lado, surpreso.
– Na verdade o senhor se atrasou e perdeu o último trem, que servia – continuou o velhinho.
– Ahn... tem razão. É modo de dizer. E esse trem aí também não serve... – disse Mateus enquanto outra composição parava na estação.
– Murphy fica chateado por o culparem toda hora por qualquer coisa, sabe?
Mateus deu uma risada.
– Do jeito que o senhor fala, parece até que o conheceu.
– Venha comigo.

Sem que pudesse reagir, Mateus foi puxado com força para dentro do vagão e, logo em seguida, as portas se fecharam.
– Você está maluco?! Estou muito atrasado para o trabalho!
– Agora, sim, o senhor pode atribuir seu atraso a Murphy. Prazer.
O homem estendeu a mão.

– Você é Murphy? Mas você tem quantos anos?
– Olha, eu até queria já ter morrido, mas minha lei não deixa. Fui eternizado. Bom, vou lhe mostrar o trem, é uma mostra da minha terra. Cuidado com o chão desse vagão, o senhor pode escorregar em algum pão virado para baixo. Manteiga, então, desliza que é uma beleza. As pessoas deixam cair direto.

Cauteloso, Mateus foi atrás do suposto Murphy, sem acreditar no que estava acontecendo. O vagão seguinte tinha diversas máquinas.
– Aqui todo mundo coloca as roupas para lavar, mas sempre perde um pé de meia. Já aqui... – outro vagão – ...as pessoas estão tentando decifrar mapas, mas a informação que elas querem está bem numa dobra ou está dividida entre duas páginas e dificulta bastante entender. Neste outro... há diversas filas e sempre a do lado anda mais rápido e as pessoas ficam trocando de fila eternamente.

Os dois passaram ainda por diversos vagões de frustração, até que chegaram a um atulhado de objetos.
– Este vagão é o melhor – anunciou Murphy. – É o último do percurso. É onde estão todas as coisas que se procura. As pessoas só conseguem achá-las no último lugar, depois de vasculhar tudo.
– Meus sapatos! – exclamou Mateus. – Finalmente achei.
Ele os pegou e guardou na mochila.

– Bom, senhor, depois desta viagem, só peço que não me sobrecarregue mais colocando a culpa em mim.
O trem parou e Mateus saiu para a estação do início.
– Senhor, trouxe guarda-chuva? – perguntou Murphy.
– Sim, estou carregando esse peso porque o tempo parece estranho.
– É uma pena, porque não vai chover.

As portas se fecharam com um estalo e Mateus abriu os olhos de supetão.
Maldito sonho maluco. Pegou o celular e viu a hora: caramba, estava muito atrasado! Levantou num salto e se aprontou voado.

Quando abriu a mochila para ver se o guarda-chuva estava lá, deu de cara com os sapatos que procurava há séculos.

2 comentários:

Unknown disse...

Fico superansiosa por seus textos!!! Eles tem sempsempre um final surpreendente!!! Muito agradecida!!!

Unknown disse...

Vixe! Saiu cheio de erros o meu comentário. Desculpa. Não sei corrigir. Bjinhos